Vuco-vuco
O poeta para em frente ao balcão do mercadinho.
Abre um pano.
São duzentas reticências
ameaçando os tímidos
com seus poemas de amor.
"Pago um roseiral por cento de tristezas”.
E começa a aglomeração.
Começa o empurra-empurra, o vuco-vuco.
Há gente inconformada nas filas mal arrumadas.
Mas os guardas sussurram,
como se quisessem sorrir,
e entram na fila
pedindo uma rima com farda e encomendando grades para uso próprio.
E continua o empurra-empurra, o vuco-vuco.
De repente o estalo.
Acode!
Há gente assustada,
mas os guardas sussurram.
Acode!
O poeta caiu.
Pegaram o casaco do poeta.
As botinas, as meias, rasgam a camisa do poeta.
"Quem sabe na gola haja um soneto", falou Senhor Gepeto;
"Na manga uma sextilha”, gritou Dona Marília;
"Na braguilha da calça eu vi um verso livre”, disse, corando, a pudica Judite.
E o poeta se levanta com dificuldade, recolhe o pano vazio e sai sorrindo do mercado.
"Na próxima eu lasco ao verso um cadeado".