Inequação
Tudo que sei
Ou tudo que não sei
Está nos livros
Está nos olhos das pessoas que convivo
Está na alma
Registrada em hieróglifo
Ler essa alma,
É desafio.
Acordar de manhã cedo
E já ter um texto batido
Frases perfeitas,
Fonemas canoros,
Interjeições mágicas
É desafio
Sair sobrevivente até às ruas
Atravessá-las,
Conhecer-lhes pelo nome e geografia
É desafio.
Desviar no momento exato,
Cair no buraco,
Torcer o pé
E, continuar pensando
infinitamente
Quando é que essa máquina
enguiça?
Quando é que o pensamento congela ?
Cristaliza.
Envelhecemos,
Somos cristais sem brilho
Somos limo em pouca pedra
Escorregadios,
Verdes fotossintéticos
E resumidos
Somos produtos de uma história que
não escrevemos.
Na desesperança
O amanhã é uma vírgula
O futuro não é mais uma incógnita
É equação certa resultante
das inequações do destino
A esquina entrecruza caminhos
Abre o leque para nenhuma opção ou
emoção
Suspiro um pouco,
Arfando o peito miúdo
A procura de lugar só meu...
Da geografia íntima dos desejos
Dos relevos das cordilheiras
Dos rios de lágrimas
Que sempre deságuam no
Mar vermelho de sangue,
E sofrimento
Ou deságuam no mar negro
De eterno luto
De salinidade absoluta
Sol e sal
Queimam juntos
A pele que mostra o tempo
mostra as primaveras abortadas
Tudo o que sei
E o que não sei está nos livros
Está no inesperado,
está lá fora me espreitando.
Está para além da morte,
Além do bem e do mal.
Está e, logo é
A ignorância incontida
Inquieta que se esgueira pelos
Telhados,
Que sobe píncaros
E se suicida quando
se arremessa no abismo
Atraente das paixões
Querer amar
Mas não há emoção
Há uma razão fria,
Um copo gelado e vazio
Que opaco porque anda frio
Mas não contém nada,
A não ser expectativa.