ILUSÃO E REALIDADE

Palavra vil, ridícula, sem glória,

Termo mesquinho, forjado na história,

Para nos moldar em tolos, sem alarde,

Diante da cruel realidade que nos invade.

Em teu significado, amplo e insensível,

Aceitar o fardo da vida, o inevitável,

Sem desespero, com pressa e sorriso forjado,

Como máscaras de cera no rosto marcado.

Superar as mudanças, ventos impiedosos,

Que não se põem, mas chegam, furiosos.

Adaptar-se ao vazio de cada perda fatal,

Como engrenagens que giram em seu ciclo banal.

Deixamos atrás o que um dia brilhou,

As estrelas que outrora nossa alma tocou,

E mesmo o calor do inferno, inclemente,

Que queimou, mas também nos fez mais presentes.

Agora vagamos em meio ao caos errante,

Como máquinas de uso, de desuso constante,

Perdendo o fulgor que outrora brilhava,

Enquanto a maré do tempo tudo apagava.

Ah, mas que ironia cruel, que nos obriga a sorrir,

A disfarçar as dores que o peito quer reprimir.

E fingir que a realidade nos traz aceitação,

Quando, no fundo, é apenas mera negação.

Será, então, que somos náufragos do sentir?

Perambulando em mares que nos fazem mentir?

Onde o esquecimento é um véu de ilusão,

Um fingimento pálido, vazio de emoção.

Ainda que o céu nos negue suas estrelas,

E o inferno seque as lágrimas em centelhas,

Seguimos, presos ao fio tênue da sanidade,

Nesta dança amarga entre caos e realidade.

No fim, resta-nos o consolo do engano,

A falsa paz de um esquecimento insano.

Pois viver é, de certo, resistir ao abismo,

Navegar entre o desuso e o ceticismo.

Tatiana Pereira Tonet
Enviado por Tatiana Pereira Tonet em 09/06/2021
Reeditado em 15/09/2024
Código do texto: T7275209
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