ILUSÃO E REALIDADE
Palavra vil, ridícula, sem glória,
Termo mesquinho, forjado na história,
Para nos moldar em tolos, sem alarde,
Diante da cruel realidade que nos invade.
Em teu significado, amplo e insensível,
Aceitar o fardo da vida, o inevitável,
Sem desespero, com pressa e sorriso forjado,
Como máscaras de cera no rosto marcado.
Superar as mudanças, ventos impiedosos,
Que não se põem, mas chegam, furiosos.
Adaptar-se ao vazio de cada perda fatal,
Como engrenagens que giram em seu ciclo banal.
Deixamos atrás o que um dia brilhou,
As estrelas que outrora nossa alma tocou,
E mesmo o calor do inferno, inclemente,
Que queimou, mas também nos fez mais presentes.
Agora vagamos em meio ao caos errante,
Como máquinas de uso, de desuso constante,
Perdendo o fulgor que outrora brilhava,
Enquanto a maré do tempo tudo apagava.
Ah, mas que ironia cruel, que nos obriga a sorrir,
A disfarçar as dores que o peito quer reprimir.
E fingir que a realidade nos traz aceitação,
Quando, no fundo, é apenas mera negação.
Será, então, que somos náufragos do sentir?
Perambulando em mares que nos fazem mentir?
Onde o esquecimento é um véu de ilusão,
Um fingimento pálido, vazio de emoção.
Ainda que o céu nos negue suas estrelas,
E o inferno seque as lágrimas em centelhas,
Seguimos, presos ao fio tênue da sanidade,
Nesta dança amarga entre caos e realidade.
No fim, resta-nos o consolo do engano,
A falsa paz de um esquecimento insano.
Pois viver é, de certo, resistir ao abismo,
Navegar entre o desuso e o ceticismo.