DENTRO DE UM CORPO, SÓ UM PODE VIVER. (Auto retrato de um tal encontro)
Às vezes sinto um outro, de mim mesmo,
Pisando na lama que enterra os inocentes
Crânios intactos no cemitério ermo.
Sangue escorrendo nos braços dos entes.
O primeiro ato é a reprise da dor,
Nosso reino inusitado coberto de farsas
Nenhum sofrimento é puro e incolor
Os ossos podres são vistos em covas rasas.
Pelo avesso, os aflitos correm sem direção.
Laminas afiada cortam os pulsos em suicídio
Mãos de luvas negras negam o pão.
Inimigos em gargalhadas comemoram os martírios.
As almas de faces novas sentam na velha cadeira.
Conversam sobre lugares compassivos e distantes
O grito que vem de fora é um apelo da feiticeira.
Avisando que a vida dura só mais alguns instantes.
Os curandeiros atrasam a morte, que um dia chega sem recado.
A caravana das sombras sem caminho a seguir,
As pegadas dos ancestrais nos levam a um lugar marcado
É fácil adorar a todos, quando se sabe mentir.
Migalhas de complacentes demarcam o chão.
Um espírito rastejante rasteja pela calçada,
O mago iluminado, não passa de uma visão.
Os ateus procuram as lágrimas que foram derramadas.
Ainda me sinto, um outro de mim,
Correndo desesperado sem os pés no chão,
As almas maltratadas pedem o fim
Os anjos rasgam o céu com as mãos.
A palidez da noite faz a lua adoecer
As luzes das estrelas me guiam para um outro tempo.
Distante de mim, não consigo me ver.
Aproximo-me e sinto calafrios ao vento.
Imaginando, já parecia estar pronto.
Revelando um auto retrato de tal encontro,
Mesmo distante de mim, já conseguia me ver.
Mas dentro de um corpo, só um pode viver.