POR ACASO
Ontem, por acaso,
ouvi um choro pequenino,
como se saísse do chão;
curioso, me aproximei,
o silêncio, no beco,
grávido, dava luz à uma palavra...
Conheço as palavras já grandes,
que se transformam em nuvens
e bailam, desaparecendo, no céu...
Nunca havia visto uma palavra nascendo,
dando sentido a algo imaterial,
como no caso dela,
existindo para além dos sentidos...
Até hoje me pergunto o que ela disse ao nascer...
Só sei que prometi nunca usá-la,
mesmo que ela tenha dito
que eu poderia, numa poesia,
que lá era o lugar dela,
se sentiria em casa,
feliz...