Boneca de trapos
Sou esquecida de Deus
Sou boneca de trapos
Tenho sonhos só meus
Mas o tempo em farrapos.
Não ato nem desato
Neste tempo partido
Num viver insensato
Num sofrer descabido.
Se de dia é que eu sonho
É à noite que me visto
O meu sonho é medonho
Mas vestida eu resisto.
No salto das horas
Perdidas esquecidas
Soltam-se as auroras
Em mim resolvidas.
Mas o tempo não anda
Não chega o momento,
Numa volta desanda
Ai que desalento!
Quero o tempo inteiro
Ligado em correntes
Como um prisioneiro
Viver com as serpentes.
Quero com elas despir
Trapos à medida
E enfim resistir
Ao veneno da vida…