Sem jeito
 
“Das palavras que apaguei
Tantas remanesceram
As rimas inutilizadas
Abandonadas e dilaceradas
Sobrevivem.”
 
O poema não quer ser mais poema
Quem sabe se perdeu no deserto
Nas grandes montanhas dos esquecidos
Nas antigas lendas do desconhecido.
Nas brumas do sonho sem leme.
 
O poema não se chama poema
Se de galhos em chuva pingam sentimentos
Se das encostas molham desejos
Se da penumbra brilham pequenas metáforas.
 
O poema reclama sem dono,
O adubo das letras na terra das pontuações.
Hiatos contínuos em copas de livros,
Pende a fruta madura que não edita.
 
O poema se desmancha sem ser ouvido,
Retorna sem pranto a chuva do dia,
Contorna a sarjeta e se esconde de viés,
Chama-se sem jeito.