AMORES
Veio a mesma luz no dia em que nasceram;
Desmamaram e tiraram dentes na mesma estação,
Juntos cresceram e foram para a escola.
Depois de tanto tempo carne e unha, pelo e testemunha,
Não se sabe ao certo o motivo,
É um mistério a desavença.
Portudo, dizem;
- Pode ter sido caso de mulher.
A ofensa tornou-se mais séria já no autoexílio
Para o qual partiram, depois, os dois.
- Ele relia a carta de despedida,
Remetente sem destinatária.
Atracaram-se no fim da tarde, ainda com sol,
Rolaram pelo jardim;
Decidiram cavar juntos o buraco, sob a luz da lua;
Tomaram um íntimo trago.
Na manhã do dia seguinte
O espectro ressuscitou, saindo da tumba.
Espreguiçou-se, bateu o pó, pegou a estrada de volta
Levando o chapéu e paletó
Que ainda dormiam na varanda.
Não serviriam mais ao seu persona-imagem.
A carta seguia no bolso,
-Iria ela, a sombra, assuntar outros atores?!