AMORES

Veio a mesma luz no dia em que nasceram;

Desmamaram e tiraram dentes na mesma estação,

Juntos cresceram e foram para a escola.

Depois de tanto tempo carne e unha, pelo e testemunha,

Não se sabe ao certo o motivo,

É um mistério a desavença.

Portudo, dizem;

- Pode ter sido caso de mulher.

A ofensa tornou-se mais séria já no autoexílio

Para o qual partiram, depois, os dois.

- Ele relia a carta de despedida,

Remetente sem destinatária.

Atracaram-se no fim da tarde, ainda com sol,

Rolaram pelo jardim;

Decidiram cavar juntos o buraco, sob a luz da lua;

Tomaram um íntimo trago.

Na manhã do dia seguinte

O espectro ressuscitou, saindo da tumba.

Espreguiçou-se, bateu o pó, pegou a estrada de volta

Levando o chapéu e paletó

Que ainda dormiam na varanda.

Não serviriam mais ao seu persona-imagem.

A carta seguia no bolso,

-Iria ela, a sombra, assuntar outros atores?!

Luís Aseokaynha
Enviado por Luís Aseokaynha em 28/01/2021
Reeditado em 28/01/2021
Código do texto: T7170636
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