ORGASMO LITERÁRIO
Nesta noite insone,
acostei-me em palavras
e numa delonga de dar pena,
aspirei lascívias solitárias...
Tua nudez, minha virilidade,
letras mudas testemunharam admiradas.
Sem nenhuma prudência,
despi-me dos versos
e gozei o lasso momento;
ruborizei a frase,
pulverizei a rima,
dei-me somente á margear o texto.
Nesta noite insone...
Bocage franziu a testa; desaprovando.
Fernando Pessoa ficou estático.
Um Drummond, lamurioso... Inquietou-se!
Do que me valho agora?
Simples neologismo.
Tesônicos quebram o silêncio,
enquanto vogais e consoantes,
correm afoitas pelas linhas seguintes
e sossegam no finalmente,
consolidando meu orgasmo literário.
Nesta noite insone.
Quem condenará meu ato?
Quantos me seguiram até o fim da página?
Quantos desfrutaram de minha ousadia?
Enquanto exponho minha arrogância,
permito-lhe o prazer,
o despudor fantasioso desta leitura...
Imagine quantas letras desnudei,
diante de teus olhos...
Letras umedecidas em meu esperma literal.