Inversão da síntese humana
Casas enormes que erguem-se aos céus
Arranha-céus que penetram na terra
Crescem as cidades,
diminuem as pessoas.
No ar rastejam os vermes,
enquanto aves voam no chão.
Bilhões de pessoas de lata
em um mundo de carne e osso
invertem o centro nervoso
da cidade e do cidadão.
Nas veias da rotina,
cotidiano pulsante,
as badaladas do coração
marcam as horas
como se o tempo fosse importante.
Minha respiração esquisita
lamenta a monotonia
que a cada dia se afia
na obrigação forçada do trabalho.
O cérebro desligado
em cabeças ocas de latas
enfeita-se de pó e teias de aranhas,
pensar não é mais necessário,
em nosso mundo pessoas são máquinas
e máquinas controlam pessoas.
As notícias são filtradas
a gosto dos grandes cifrões.
Movidos à preguiça
tentamos mudar o mundo
Empurrando a responsabilidade do futuro
para as crianças [?]
A goteira de óleo de minhas lágrimas
secam o chão de pele,
caminho com cuidado
para não cair nos poros da incerteza
e me afogar no sangue enferrujado.
Inclino-me sobre os ombros da montanha
e ao ouvido sussurro
os meus anseios e o que almejo
Ouço a voz da montanha
falar dentro de mim:
o medo que te assombra
está na vontade que te impulsiona.
Agora caminho lentamente,
sumindo entre faíscas
das pessoas em atrito
com seus próprios pensamentos.