Bebe-se o vidro do vinho em taças de nada.

Embargados os gestos repousam agora

em adagas doridas

no sangue das memórias pelágicas.

Nuvens de caruncho engolem a montanha

em orgias de ventos.

A manhã librina e fria chora a demora

da noite incendiada, retesa-se aposta às costas

velhas da cadeira e engole a dor da incerteza

no agridoce toque dos lábios retalhados.

O ventre eclode aprisionado às Brumas de Avalon,

o Mundo nu palmilha a foz do rio.

As correntes rebentam-se da prisão das horas

simuladas em danças de luas cheias

se a neblina dá forma ao dia de ruas esquecidas.

Rasgam-se as entranhas dos sexos e dos seios

na destreza das mãos por acontecer.

Bebe-se o vidro do vinho em taças de nada.

Às águas são por fim a liberdade

da escolha a escorrer dos olhos de uma mulher.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 26/10/2007
Código do texto: T710394
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