SOBRE O RECRIADO MUDO...

Hoje, cedinho, passei meio indiferente por ele.

Fazia tanto tempo...

Estava amorfo,algo empoeirado.

Descaracterizado.

Eu apenas o olhei de longe.

São seis meses que ele não saberia remarcar!

Nem me contar por que.

Talvez tenha parado atônito

Sem sentido certo pela missão que traz.

Contar, contar, contar...

Robotica e honestamente

A enfrentar o tempo

Até das suas horas paradas.

Um verso dele me soou.

Como pode algo

Se perder da própria essência

Pelo seu tanto tempo já marcado?

E demarcado?

Como recontar com precisão

O que nunca se contou?

Da vitrine dos sonhos

Fora retirado e abandonado ali, de qualquer jeito

Largado,

Depois de tão desejado.

Humilhado.

A lhe ser negado o principal:

Todo o calor humano dissipado

Aquele que ainda corre

No pulso acelerado,

Pelas frações de segundos ora negados.

Ali, imóvel e inútil...

Deve ser porque

Já descobriu que tempo não existe

É apenas relatividade,

Mas absoluta!

E ele que acreditou...e pontuou!

Então, dele selei nosso verso.

Sobre o meu criado mudo

Éramos só mais um relógio de pulso filiforme

A vencer sua desaceleração inexorável.

Desejo de consumo das horas

Que passaram silenciosas,

Sem serem vistas,

Desmarcadas de vida.

Como criadas dum tempo algoz,

Subservientes e mudas...

Ao nada remarcar.