Decreto

(Para Manoel de Barros)

Amanhã de manhã

tornarei a manhã tarde.

Transformarei árvores em pipas,

cobras em pássaros, asas em chapéus.

Só pra inverter a situação toda e

expurgar o monótono dia ensolarado.

As coisas simplórias

tomarão o lugar dos excessos

e permanências.

O navio que nos acolhe será comandado

pela voz interior: dorme quem quiser,

pula ao mar quem quiser.

Raptaremos o capitão e velejaremos em céu aberto.

O único mantra será não afligir o peito desejante,

muito menos calar o fogo que retorce nas vísceras.

O pensamento voará pelo ar

como um bumerangue que retorna vívido em sua curva

porque aconchegou-se no agasalho das nuvens.

Aviso matinal aos desinformados:

abra as janelas, o poente traz novos balbucios

e promete que aprendeu a dançar igual às rãs noturnas.