FIO DE LINHO
Há dias que estou equilibrado nesse fio de linho,
Os pés rubros e inchados me incomodam
Nessa linha fina, mas cruciante
Que me ponho a caminhar.
Acho que estou sozinho
A noite está mais escura que poderia
Não vejo meio palmo do rosto
Nem a frente, muito menos a baixo.
Única coisa que se faz presente é o vácuo do não-saber:
“Que diferença faria cair agora ou amanhã?”
Muito passaram pelo tempo que estive aqui.
Alguns pararam,
Outros ignoraram,
Riram, xingaram,
Poucos perguntaram
E menos ainda pude dize-los do porquê.
Contei histórias.
Fiz piadas.
Fui (in)feliz.
Compartilhei do canto dos pássaros
E passei por maus bocados.
(Dias de tempestade não foram facéis
não tive muitos casacos para ventos pesados)
Muito pensei, falei e criei sobre os trançados desse linho
Sobre sua largura e comprimento;
Sobre seu material e feitio;
Todavia nunca cheguei ao seu final...
Pouco consigo me equilibrar onde estou
“Será que está bem amarrada?”
Há dias que estou equilibrado nesse fio de linho
Não me lembro de quando subi
E não sei quando a corda romper-se-á
A única coisa possível é senti-la
Enquanto esgarça
Por entre os dedos...