MENDIGO...

Pedinte do tempo

Mendigo a vida

Numa saia rasgada

Embolorada

Ensanguentada

Parida de alma

Morta de fome.

Sem nome,

Sem lida,

Sem salvação.

Salvando a pele

Que não tem,

Muito menos,

Vontade de viver.

De ver

Sofrimento,

Lamento...

E escrever

Numa pedra

A dor que dá

Ser pobre assim.

Mendigo o gosto

No desgosto

De quem não vive

Só passa...

Pelos mundos

Imundos de todas

As áfricas.

Pedinte do espaço

Passo a passo

Vou pelos

Planetas e sois

Na vã esperança

Que nunca

Se concretiza.

Mendigando a

Alegria de quem

Sorrir de barriga

Vazia de pão,

Mas cheia

De lombrigas e os

Olhos esbugalhados.

Vai pedinte,

Pede mais!

Já te apelidaram

De pidão mesmo...

Peço uma esmola

Numa sacola

Cheia de preconceito.

Não aceito não

Como resposta.

E o apocalipse?

Pedinte, não estás

Sozinho nessa

Tarefa de pedir

Pra se matar de fome.

Mendigo um dia

A mais para pedir...

Testar os corações.

Pedinte do tempo,

Pede a alma,

A calma e a

Chama do amor.

A dor? Que peça...

Mendigo a água

Do poço sem fundo,

Dos corpos em brasa

Dos nordestes sem fim,

De marte ou vulcão,

Da boca da noite.

Quero sim pedir,

Algo não

Diferente,

Que a todos vem

Sem ninguém querer,

A qualquer hora

Sem nada dizer.

Pedinte no tempo

Sem tempo

Para pedir...

Lá vem ela

De qualquer norte,

Que venha agora...

A boa morte.