CALAM-SE OS SINOS

“Domingo Covid-19”

Calam-se os sinos na Igreja

Não há culto nem romaria

Na torre acorda a coruja

Piando com nostalgia.

Anda o demo meio à solta

Na rua s´ ouve o lamento

A natureza, meia morta

Voa na brisa ou no vento.

Até nem parece domingo

Encolhe os ombros quem passa

Nos olhos não se vê pingo

Mas suspeita-se a desgraça.

Toda a cidade é deserta

Empurram-se vidas pro lar

A angústia é mais do que certa

Não se sabe o qu´ vai passar.

Notícia atrás de notícia

A TV a todos exorta:

Anda um vírus com malícia

Passando p´ lo pé da porta.

Sem capelas nem catedrais,

Ao menos TV e Internet,

Não há órgãos nem corais

Nem ladainhas em falsete.

Os cultos valem o mesmo

Com emoção e mais brasa,

Ouvem-se rezas a esmo

Nos cantos de cada casa.

Calam-se os sinos, porém,

Ouve-se o mocho a piar,

Teme-se que morra alguém

Que bem doente possa estar…

Ouvem-se vozes de auxílio

Nesta quarentena forçada,

E neste doméstico exílio

Teme-se o perigo por nada.

Vai meia surda esta guerra

Vestida p´ lo trágico medo

Toda a alma se desterra

Quer tenha, ou não, algum credo!

Frassino Machado

In AO CORRER DA PENA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 15/03/2020
Reeditado em 15/03/2020
Código do texto: T6888490
Classificação de conteúdo: seguro