CALAM-SE OS SINOS
“Domingo Covid-19”
Calam-se os sinos na Igreja
Não há culto nem romaria
Na torre acorda a coruja
Piando com nostalgia.
Anda o demo meio à solta
Na rua s´ ouve o lamento
A natureza, meia morta
Voa na brisa ou no vento.
Até nem parece domingo
Encolhe os ombros quem passa
Nos olhos não se vê pingo
Mas suspeita-se a desgraça.
Toda a cidade é deserta
Empurram-se vidas pro lar
A angústia é mais do que certa
Não se sabe o qu´ vai passar.
Notícia atrás de notícia
A TV a todos exorta:
Anda um vírus com malícia
Passando p´ lo pé da porta.
Sem capelas nem catedrais,
Ao menos TV e Internet,
Não há órgãos nem corais
Nem ladainhas em falsete.
Os cultos valem o mesmo
Com emoção e mais brasa,
Ouvem-se rezas a esmo
Nos cantos de cada casa.
Calam-se os sinos, porém,
Ouve-se o mocho a piar,
Teme-se que morra alguém
Que bem doente possa estar…
Ouvem-se vozes de auxílio
Nesta quarentena forçada,
E neste doméstico exílio
Teme-se o perigo por nada.
Vai meia surda esta guerra
Vestida p´ lo trágico medo
Toda a alma se desterra
Quer tenha, ou não, algum credo!
Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA