Tempo ou a saudade
tudo o que há de disperso e duro na minha sensibilidade
vem da ausência desse calor e da saudade inútil
dos beijos de que me não lembro dados na infância
acordei sempre contra essa carência de sonho
e a minha mãe morreu sem me despedir…
ah, é a saudade do outro que eu poderia ter sido
que pela educação que me dispersa e sobressalta
quem outro seria eu se me tivessem dado carinho
se houvesse nascido de outro ventre
noutro lugar diferente com outra fé
e do que vem desse ventre até aos beijos
de que amor me é dado a conhecer?
quem sou ou serei do que me fiz?
com que vigor da alma sozinha
com que crença nas palavras
fiz página sobre página reclusa,
vivendo sílaba a sílaba a magia do engano
não do que escrevia,
mas do que supus que escrevi…
e a minha mãe, partiu…
Alberto Cuddel
11/02/2020
11:30
In: Nova poesia de um poeta velho