Passeio pela nova velha estação
Dentro do carro meu corpo, a alma no asfalto
Transita entre a pedra e a intangível leveza
A veloz se transportar para o distante planalto
Onde avista imóveis, os olhos claros de Teresa.
Talvez por influencia da estação, uma lembrança
Salta de repente do passado e traz Maria
Posto que habitasse um devaneio de criança
Faz agora outra história, diferente da que havia.
Assim como a leste, tem-se a certeza do levante
É certo que me achando a sorrir dessa maneira
Serei deliberadamente dominado pelo infante
Que abre os braços, mira a reta, desce a ladeira.
Numa estradinha a trafegar distante do barulho
Uma mãe ainda moça com a leveza das marolas
Guia a criança em quem revela o seu orgulho
No ardente sol que é a soma de todas as auroras.
À frente, à face d água, as cabeças dos banhistas
Vem da represa vazia numa imagem de sábado
Como se da memória se revelassem uns artistas
Projetando numa tela a graça dos gestos vívidos.
Imagem soberba, essa, transbordante de saúde
Qual notícia de chuva em solo árido nordeste
Sensação do sertanejo ao tomar água do açude
Impressão de cravina no olfato do campestre.
De repente, eis que me pego assim cantando
Como um tenor, desses de debaixo do chuveiro
Coração sob a batuta de um menino amando
O encontro com o olhar do seu amor primeiro.
E assim como o vento, voam a estação, as semanas
Enfim, é o tempo e seus instrumentos de trabalho
A velocidade e a ilusão, como são para as ciganas
As linhas da palma da mão, o oráculo e o baralho.
A viagem pela tarde não fora apenas distração
Antes, uma luta qual labuta de um ourives
Que entalhando a joia, resiste, ilude a sedução
De gravar da amada o nome como me contive.
E o céu que o tempo todo fora azul e algodão
Acinzenta em dado instante e começa a trovejar
Digo adeus para os fenômenos antigos da estação
Se aceno para os novos, me aconselham retornar.