Paralelos

Ando, andando...,

Andando, ando.

Falo, falando...,

Falando, falo.

Que talo ! Que ralo.

Não falo!! Me calo.

Fale !!

Falo.

Que fale.

Andando, se cale...

Curvas negras.

Curvas morenas.

Curvas brancas.

Curvas ciganas.

Obeliscos à Deusa.

Às Deusas...,

Nuas e cruas.

Minha e tua.

Minhas... e tuas.

Aos Deuses,

Estereótipos dos estereótipos.

Mão santa, pêlos santos, corpo santo

Sexo santo...

Dos Santos o protótipo.

Do protótipo, o manto.

Apenas, estereótipo...

Ofertas à Iemanjá.

Tupâ agradece, engrandece...

Deusa Lua..., ilumina.

Deus Sol..., aquece.

Deus Água..., domina.

Deus Vento..., subverte.

Deus Terra..., de tudo, padece.

Deus Homem..., a tudo abomina e esquece.

Arcanjos malandros,

Sobre a névoa bruxoleiam.

Malvados anjos,

A tudo encendeiam.

Deus vento, sopre,

Da criação, a enrugada face,

Que herculeamente molda, de mansinho,

As vestes dos seres, em sua diversidade.

Javé, Jeová, Jesus, Judá,

Judas, escariotes...

Ao seu pranto, não mais comove.

Não se esquece, anda, à toa,

Peregrino. Andarilho. Esnobe.

Da fé, destoa, não perdoa...

Titâs do asfalto.

Obscuros relâmpagos a brilhar.

Maritacas ambulantes... pardieiro.

Vozes singelas, aos prantos, a trovejar.

Que lave a fogueira, o fogo.

Com as suas caldalosas ondas.

Que queime a face, o vento que sopra,

Revolvendo a terra..., as covas e as alcovas.

Que congele a ânsia de todo o poder, a gélida água,

Dos ricos, cínicos, sábios ou marionetes...

Do céu, do vale, da serra.

Ou apenas escroques...

Que encontrem os santos sete palmos de terra.

Santificados sejam,

Vós, Nós, Eu, Tu, Ela, Ele,

Elas, por elas.

Eles, por eles.

Paralelos em paralelas.

Cérebros ao molho,

Em uma linda e ensanguentada tijela...

Comamos todos do mesmo pão.

Da mesma forma, da mesma fôrma.

Do mesmo instante, a criação.

Da mesma cara, na mesma lama,

Do mesmo carma, da mesma alma.

Na mesma cama.

A mesma Deusa, cigana.

A mesma carne, profana.

A mesma prece, bacana.

A mesma sina insana.