APARIÇÃO

Céu limpo, sem ventania

Surgiu às carreiras,

Sem tropel, repentino

Apeou do alazão

Passado o susto, um menino

Perguntou-lhe o porquê da pressa...

Sorriu e sentou-se no chão

Cruzou os dedos à boca

Se jurar segredo posso contar

(se a memória não falha)

História em tantinho louca

Difícil de acreditar

Viajo dia inteiro por essas terras

De manhã, no alto das serras,

Fico até à tardinha,

Quando o Sol por lá se esconde

Sigo pelo vale, onde corre o rio

Navego seu leito e de madrugada

Descanso no mar

Sei que a história é difícil de acreditar

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A vida é diária batalha

E continuar em frente

Desafio pra gente valente

Viajo todo o tempo por esse universo

De pequenino até a cabeça grisalha

Companheiros de estrada?

Encontrei tipos diversos

Jovens, animados e sorridentes

Senhores silentes e sisudos

Lembro-me de cada rosto

(se a memória não falha)

Passado o ânimo inicial,

Pra tristeza e desgosto

Desejavam boa viagem

E desistiam da empreita

(Já ajuda quem não atrapalha)

Via-me só nas estradas cheias de pó

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Às dúvidas, os desvios

Encruzilhadas, dilemas

De pouco, a gente se ajeita...

Desata-se os nós dos problemas

Nos vilarejos ou de passagem

Se via matuto pedia informação,

Qual o caminho mais curto

Se havia alguma estalagem

Ou rápida refeição

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Encontrei, tateante, um cego

(se a memória não falha)

Sabia caminhos de ouvir dizer

Parecia certo de tudo

Até o que não podia ver

Havia a trilha da ponte rumo ao infinito

Caminho muito bonito

Sentira o perfume de flores

Despediu-se e desejou: Boa viagem!

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Encontrei, gesticulando, um surdo-mudo

(se a memória não falha)

Sabia caminhos de tanto tentar

Tirou pedaço de papel de pão

Era um mapa e apontou o céu

Rabiscou no chão uns traços

Despediu-se e desejou: Boa viagem!

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Encontrei, cambaleante, um manco

Carregado de tralhas

(se a memória não falha)

Ofereceu montaria a acelerar o passo

Devagar se vai ao longe, agradeceu

De ligeiro, bastava-lhe o vento

Neste ritmo lento, admiro a paisagem

Sinto o perfume das flores

Despediu-se e desejou: Boa viagem!

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Do céu limpo trovão furioso

Levantou-se assustado

Como ouvisse um chamado

Montou o alazão e partiu

Deixou-me curioso

Disparou para aonde?

Ninguém mais o viu...

(e cruzam os dedos)

Às vezes...

(Desde menino até a cabeça grisalha)

Pareço vê-lo...

(se a memória não falha)

Lá no infinito horizonte...

Desejando-me boa viagem

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 23/11/2019
Reeditado em 23/11/2019
Código do texto: T6801832
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