ANATOMIA
Abres-me as entranhas
Começas a comer-me o fígado
Devagarinho, pedaço a pedaço,
Saboreando a víscera que ainda sangra.
Já não sobra mais nada.
Fungas, farejas.
Que vais atacar agora?
O pâncreas te parece suculento...
Começas a mordê-lo,
Logo a devorá-lo.
Ao lado, o baço convida
A continuares o banquete.
Não te sacias
Até esvaziar-me o ventre.
Rasgas-me peito acima
Sorves-me o ar que resta
Em meus pulmões,
Passando para ti
O resto de vida que ainda há.
Agora, te diriges ao meu coração.
Este eu não te dou!
Este é meu, pois nele se encerra
A alma que em mim habitou.
E esta é minha,
Não serve a teus propósitos,
Tão diferentes dos que ao longo da vida,
Dirigiram os meus passos
Pelos caminhos que trilhei.