UM VELHINHO, UM PIANO, UM PASSARINHO Luiz Poeta

UM VELHINHO, UM PIANO, UM PASSARINHO - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros

Pelas teclas do piano, um passarinho

Passeava, entre bemóis e sustenidos;

Ao tocá-las, ele ouvia,bem baixinho,

Outro canto que alegrava os seus ouvidos.

Muito ingênuo, o frágil animalzinho,

Respondia àquela espécie de assobio,

Tropeçando nos bemóis... devagarzinho,

Como se ouvisse o som de um novo pio.

Pelos olhos nebulosos de um velhinho,

Esta cena inusitada parecia

Um desenho rabiscado, com carinho,

Pelos dedos de arco-íris... da poesia.

Por instantes, comovido com o que via,

O velhinho aproximou-se do piano

E enxergou, dentro da própria miopia,

O amor de Deus mostrado em outro plano.

Mansamente, seus dedos enrijecidos

Repetiam cada nota que a ave

Emitia e percorria seus sentidos;

A partitura era uma pauta...sem a clave.

Cada vez que o contato digital

Produzia um novo som, o animalzinho

Repetia-o num toque musical

E o velhinho... já não era mais sozinho.

De manhã, quando o piano emudeceu,

Só um eco metafísico pairava...

Era a alma da canção que se perdeu

No silêncio de um velhinho...que voava.

***

- Às 8 h e 7 min do dia 5 de maio de 2007 do Rio de Janeiro - Direitos Autorais Reservados ao Auto - BNRJ

LUIZ POETA
Enviado por LUIZ POETA em 11/09/2019
Código do texto: T6742928
Classificação de conteúdo: seguro