SOMBRAS SILENCIOSAS
SOMBRAS SILENCIOSAS
O silêncio me convida a contemplar
a poesia, que se oculta na noite
entre as sombras dançantes.
Sombras de gente desconhecida,
que caminha no ermo da rua
com os passos apressados.
Temendo talvez, algum meliante
que lhes roube algum pertence,
ou lhes tire a própria vida.
O silêncio sugere que me concentre
na poesia, que se esconde na tristeza
desértica da noite.
Os passos das sombras se apressam,
da gente que ainda não morreu.
Ecoam no silêncio, ante o qual
a poesia, retraída, pouco se mostra.
E os passos das sombras mortas
(almas do outro mundo),
caminham ladeadas com as sombras
da gente viva (almas desse mundo),
mas ambas habitam em mundos distintos.
O poema se constrói, a partir da visão
espiritual da poesia.
A partir do esforço da alma poética, em entrevê,
com os olhos perispirituais, as imagens
metafísicas da poesia doando-se.
Sendo apreendidas pelo artífice da palavra
versada livremente, em meio a contemplação
confusa e expectante do mover das sombras silenciosas.
E o silêncio insiste em envolver as sombras,
na mudez da noite taciturna.
E os passos das sombras, sequer ecoam,
nos confins do silêncio tenebroso.
E a gente que caminha apressada,
temendo ser surpreendida por algum meliante,
não vê que outra gente, almas desencarnadas,
caminham ladeadas, mau intencionadas.
Por fim, as sombras dos entes vivos e mortos,
seguem juntas, com os passos apressados,
envoltas no silêncio da noite avançada,
sem saberem que o poema foi construído,
a partir da visão espiritual da poesia,
que se desprendeu do mover das sombras silenciosas.
Escritor Adilson Fontoura