Poesia
Luxuriosas, as palavras,
Dançam sedutoras ao redor de mim,
Como centelhas da mesma fogueira,
Me queimam, prazerosas, com o meu fim.
Um doce tormento, silêncio
Sepulcral e majestoso.
Caleidoscopicamente,
Em teu versejar suntuoso.
As letras se embaralham,
Se completam e reorganizam.
Se quebram, mudam de sentido,
Separam-se em novas sílabas.
O teu toque pessoal atrás da tela
Em suaves machadadas a teclar,
Esmigalham a minha alma
Quando, verso a verso, me vêm tocar.
Desfaço-me em borbulhas,
Restam átomos soltos na imensidão,
Pouco a pouco, me recobro,
Reconstroem-me a razão.
E como nomear um sentimento?
Como vocabularizar uma sensação?
De todas as línguas, buscaria verbetes
E, ainda assim, não haveria tradução.
Porque A Poesia, assim dita,
Artigo definido por pressuposto,
É a prova real de que há magia
Em fagulhas, brilhando, através dos poros.
Indo morar no papel ou na tela de um aparelho morto.