O CAÇADOR CIFRÃO
(A Guerra Junqueiro) (*)
Jaz a honra entrevada e moribunda
Naquela Torre estranha e paciente…
Rasga o temor discreto a onda funda
Chora a cidade convulsivamente…
Tagarela real, diz-me, quem passa?
– É o príncipe Cifrão que anda à caça.
As almas dobram por alguém finado…
Morte perplexa, lastimoso pranto!...
Sai das bolsas vazias triste fado,
Fado farto d´enjoo e desencanto…
Tagarela real, diz-me, quem passa?
– É el-rei dom Cifrão que anda à caça.
Cospe, o capital, apostas arriscadas
Sobre a paisagem d´ Urbe a palpitar…
Gritam nas almas raivas envenenadas,
Erguem-se ríspidos braços a ameaçar!...
Tagarela real, diz-me, quem passa?
– É el-rei dom Cifrão que anda à caça.
A Torre é torta! A autonomia é morta!
Futuro negro sem sorte, sem vinténs!
Ri o capital ganancioso à porta
Guarda a vergonha a miséria dos bens!
Tagarela real, diz-me, quem passa?
– É el-rei dom Cifrão que anda à caça.
Tiro à distância em procela fugaz!
Ciranda a turba numa confusão…
Soa a Internacional um clarim audaz…
Desaba a Torre em ríspida implosão!
Tagarela real, diz-me, quem passa?
– É o Agente da luva negra à caça
Do caçador Cifrão!...
Frassino Machado
In ODIRONIAS
(*) – À memória do vianense prédio Coutinho