PESSOA E PESSOAS
13 – 06 – 1888 (*)
Hoje é o dia de Fernando Pessoa,
O seu nascimento se apregoa…
Pessoa, o filósofo-poeta
Que viveu mal co´ a realidade
Pois nunca viu “pessoa” certa
Pra sua própria identidade.
Hoje é o dia de Alberto Caeiro,
P´ la simplicidade o primeiro…
Caeiro, o poeta da Natureza
Vista p´ los olhos do sentir
Conhecê-la dá-lhe a certeza
De um consistente transigir.
Hoje é o dia de Álvaro de Campos,
De tantos horizontes, tantos…
Campos, o poeta progressista
Que venera a modernidade
Com angústia de pessimista
E revestido de ansiedade.
Hoje é o dia de Bernardo Soares,
Co´ a alma em estratos de pensares…
Soares, o poeta do desassossego
Sempre por fora, mas para dentro
Em busca de um aconchego
Da periferia até ao centro.
Hoje é o dia de Ricardo Reis,
Sempre eterno aprendiz de leis…
Reis, poeta amante da tradição
Em todas as coisas expedito
Por linguagem de convenção
E de vocabulário erudito.
Hoje é o dia dos muitos Pessoas
Cada um, por si, tecendo loas…
Pessoas, poetas e heterónimos,
Guardadores de sensibilidades,
De contradições e parónimos,
De fingimentos e nulidades.
Pessoa e Pessoas, perspectivas,
Ideias truncadas, derivas…
Pessoas, e, quem sabe, ficções
Sempre abertas, nunca fechadas,
Testemunho d´ ávidas emoções
De mil e uma encruzilhadas…
E porque não Dia de António?
Não sendo uma notícia boa,
É, porém, um semi-ortónimo
Já que Fernando, nome segundo
Não de Bulhões, mas de Lisboa,
Sem ser Pessoa, é-o do Mundo.
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA
(*) – Morte de Santo António,
Em Pádua: 13 – 06 – 1231