A PASSAGEM

Ao dobrar a esquina, o redemoinho,

O turbilhão sobre a cabeça.

Minha luz se expande, puxada.

Vejo-me em ruas de pedras, o caminho.

Nada mais que me esfrie ou aqueça.

Coisas grandes ou pequenas não são nada.

Percorri de pergaminho a papiro,

De papelão a folhas de seda

Tinteiros gastos como anos inteiros.

Foi-se já meu último suspiro,

Substituídas ruas toscas por veredas.

Todos palpites revelam-se embusteiros.

Luto nenhum por mim, nenhum luto,

Trago no coração o bendito fruto,

Sem pulmões respiro mais do que nunca.

Só verdades, meu nariz não adunca.

Todas as portas contêm reposteiros

E da varanda avista-se todos luzeiros.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 07/04/2019
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