horizontal
espera esperança eterna
na caverna habitada
habituada à normas internas
cascalhos nas paredes
pescadores armam redes
na escuridão da gruta
uma puta luta
cala e consente
fala sem pejo
de um orgasmo egoísta
em troca de grana
para sobreviver
as escadarias da caverna
conduzem às paredes frias
monstros procuram monstros indefesos
escuridão no interior da caverna
barulho de passos lentos ferem os ouvidos
um silvo longo:
motoristas apostos
"passageiros com destino a Manaus
queiram tomar seus lugares".
a mesa está posta
operário aposta
burguês come e bebe
lá fora um sol quente
a rp prende assaltante.
no interior da caverna uma voz materna
canta uma canção:
"tutu marambá não venha mais cá
que a mãe da criança te manda matá".
monstros não ousam fugir
estão por demais habituados
e o medo de morrer habita a caverna
onde uma voz cavernosa martela
aprisiona os sentidos...
a vida presa por um tênue fio
num desafio imaginário horizontal
dentro da caverna sonho e medo
num berço esplêndido esquecido
tolhido.
nem uma fresta
ou uma sombra fresca
um raio de sol...
mãe e filho choram
as correntes prendem
a apatia abate
a fome ataca
pendurada na parede
uma vela bruxuleia
alheia ao carrasco
momento presente
acidental no ocidente
horizontal
Poema escrito numa ditadura
do Livro Três Estações - 1987