EFLÚVIOS DO SENA (sob Debussy)

I- CLAIR DE LUNE

Entenda, não há perfeito gêmeo

E o quanto temos de efêmero,

A vida dura um átimo ...

À relevância, qual fragrância,

Importa muito cada átomo...

Alargue o nível de elegância !

Deixo que a luz da Lua cheia

Alheie-se ao que me "alumeia" ...

Importa fusão na confusão dos lábios

Ou imersão, ou profusão de ditos sábios.

II- L'Apres Midi D'Un Faune

Uma melodia ecoa no bosque,

Faz de mim o fauno solitário

Feito o lobo Hesse da Estepe...

Fita ondulada pelo vento até enrosque

Na torre da igreja com campanário -

Sou fauno meio moleque ...

Exalo dos poros sensualidade,

Espreguiço, cioso de todo meu langor.

às vezes surjo, não raro cataléptico,

Prostrado "post coitum" e me invade

Desejos, ser tocado pelo tambor ...

Temo deixá-los apopléticos ...

III- NOTURNO -SEREIAS

Que as penas de nossos travesseiros

Apenas deixem-se no nobre ofício

De amparo a procederes oníricos !

Há um cantar, provém de alto- mar,

Repercute e ecoa sobre as rochas,

Canto que ressoa e ressona labirintos ...

Sei-as, sei-as bem,aqui na areia,

Metade humana, metade peixe,

Canção que rescende a precipício.

Destroça amares no crepúsculo,

Canção sem final e sem início,

Que agita e mata todos músculos.

IV- ARABESQUE No 1

Goma arábica não cola o arabesco.

Trancei as pernas, lida moura,

Luxúria sarracena.

Ancorarão talvez alguns afrescos,

Uma aquarela que se doura,

Mais uma bela cena...

V- JARDINS SANS LA PLUIE

Lágrimas de cristo crescem sob a pimenteira,

Vizinha da cafeeira flor e do manacá,

Suportes para minhas orquídeas ...

Esparramam-se pelo solo várias marias sem vergonhas ...

Lamenta-se pela perda do cetro a roseia,

Dor que não cura nem mesmo piracá;

Recomendo-lhe, aceite e consolide-a,

Como faz nos instantes nos quais se sonha...

VI- TIZIGANE

Zune a abelha,

Anseio viciado néctar,

Não dura uma década

Calcutá que novadelha...

Poupe-me, nada em ferrões,

Haverá de escarnar as devoções

Que ornamentam minh'alma,

Salvo o solo do violino,

Todo solo planicia e eu colino -

Eis o teor de minha calma !

VII- SYRINX

O sopro,

Pã seduz ...

O alopro:

Aloha, Lua :

Sede luz,

Sede ruas.

O vento carrega papeizinhos

Na rua agora deserta,

Dispensa os passarinhos,

Prelúdio à porta aberta ...

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 12/03/2019
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