A TEIA
Uma teia
Estendida no varal
As aranhas
Emaranhadas feito roupas
Sem sol
Por sobre a luz da lua
Aproveitam a vaga
Pra se debruçar por sobre aquela linha
O sereno as atravessa
Mas nada as atinge
Não as desfaz
Não as derrama
Não as maltrata
Nessas suas estradas finas
Linhas em que me coloco
E me movo
A toco
Detenho
Desenho
Apago de minha memória
As tantas teias que me envolvem
As teias que nem consigo ver
As teias que movem
Em mim seu ser
A teia também na grade
Presa como eu
Inerte
A serviço da passagem
Do existir
Ainda estou contemplando
A teia
As teias
As linhas tênues
Da minha gratidão
Da minha mansidão
Da minha inutilidade
Do projeto
Que desconheço
As aranhas se movem
Eu não
A chuva perpassa e nada acontece com elas
Nem aranhas, nem teias
Enquanto que comigo
Morro serena
A observar
A contemplar...