O CORTE
Por que não é lâmina a mão que afaga?
E desmente a pele que se diz tão pura?
Meu sangue, afinal, cortejando a adaga
Não seria mortal, pois no aço há cura.
Não desprezo, tampouco, a dor que trarias
No entanto, menor que a angústia guardada
D´um só golpe no peito, um escape abririas.
Me exponho, não tardes, minha carne te aguarda
Noto que, lânguida, por trás te aproximas
O fio da navalha estremece, anseia
Desejando cortar, extirpar sem mercê
Ruidoso estilete, em meu sangue declina
Filete, serpente, dançarina na areia
É solidão que retalhas, é liberdade o que vês.