A ARTE DO DESPREZO
Pessoas aparentemente vivas morrem dentro de mim
Simplesmente são apagadas do meu céu
As ponho pra dormir, inexistir, armazenadas, deletadas
Na lixeira interna de meu mausoléu...
São como estrelas umas até bem próximas de minhas mãos
Outras mais distantes de minha constelação...
Existem, mais estão perdidas na minha vasta escuridão
Como folhas entontecidas que rodopiam pelo chão fora da estação...
Faço-as sumirem como são fechadas as portas
Como se a água do mar não chegasse até a orla da praia
Assim não chegam também até minha aorta...
As tiro de circulação e não chegam até meu coração até que se contraia
Não há propulsão interestelar para quebrar a barreira de minha frieza
São como quadros pendurados e sem vida qual natureza morta...
Sem mágoas, sem ressentimentos, sem água estagnada
O tempo nos faz ver por outros olhos que não os do rosto
A sensibilidade aumenta e o ranço fica decantado no fundo da garrafa
Sem interferir no gosto como as uvas frescas que não fermentam
Mais produzem o efeito de nos embriagar pra esquece-los...
São pessoas que ficarão vagando dentro da gente
Sem contra-peso necessário para nos equilibrar
São errantes como astros
Rastejantes como répteis que se movem sem deixar rastros...
Lógico que há vida como o há em quase tudo que respira
Quem sabe eu também esteja morto dentro de alguns
Nunca saberemos quem nos inspira nos nossos desjejuns
Uma coisa é certa sempre há uma lógica em cada loucura
Deus o criador, inventou a criatura com muito critério
Mais tudo envolvido num manto de tanto mistério
Que nós que nos damos o nome de ser humano
Mais, lá no fundo nunca saberemos quem somos
Porque nunca nos conheceremos uns aos outros
De fato como ele nos conhece como ao vento da qual
jamais saberemos de onde veio e pra onde vai em seu movimento
Assim somos nós em nossa vã aventura
E pior do que a loucura de lembrar é o esquecimento que a tudo cura...