ÉPICO
Três reis vieram me visitar
no dia em que nasci.
Três reis vieram me matar,
mas não morri.
Crucificado dez vezes,
sobrevivi
para vender meu sorriso
na beira do mar.
Cinco irmãos tive
para sustentar.
Cinco bocas famintas
para alimentar.
Minha mãe era cega
e meu pai, viajante.
Mil sonhos tive
que guardar.
O baú de sonhos apodreceu
e as cores de ontem feneceram.
Guardei jornais
para me cobrir,
quando os irmãos cinco
me deixavam dormir.
Um dia apareceu o morto
e ele me falou por um livro
de uma vida possível além.
Despedi-me de meus pais,
beijei meus irmãos
e nunca mais vi ninguém.
Perdi-me no mundo,
perdi o meu nome,
reencontrei a sempre companheira
fome.
Entrei em navio,
fugi com o circo,
carreguei lona,
fiquei tísico,
curado fui pela fé
em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Lutei contra piratas,
venci os mares azedos,
cruzei a pé um deserto
e não tive um tico de medo.
Fui guerreiro
feito prisioneiro,
amei mulheres
por amor e por dinheiro.
No fim das contas,
sobrou um punhado de moedas.
Tanta coisa fui,
quase nada tive.
A única alegria
foi casar com Edite,
a que por toda a vida me esperou
na beira do rio.
No dia do meu morrer,
voltarão os três reis
e, dessa vez, eles conseguirão
me matar.
Mas meu sorriso na face,
quem há de me tirar?
Três reis vieram me visitar
no dia em que nasci.
Três reis vieram me matar,
mas não morri.
Crucificado dez vezes,
sobrevivi
para vender meu sorriso
na beira do mar.
Cinco irmãos tive
para sustentar.
Cinco bocas famintas
para alimentar.
Minha mãe era cega
e meu pai, viajante.
Mil sonhos tive
que guardar.
O baú de sonhos apodreceu
e as cores de ontem feneceram.
Guardei jornais
para me cobrir,
quando os irmãos cinco
me deixavam dormir.
Um dia apareceu o morto
e ele me falou por um livro
de uma vida possível além.
Despedi-me de meus pais,
beijei meus irmãos
e nunca mais vi ninguém.
Perdi-me no mundo,
perdi o meu nome,
reencontrei a sempre companheira
fome.
Entrei em navio,
fugi com o circo,
carreguei lona,
fiquei tísico,
curado fui pela fé
em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Lutei contra piratas,
venci os mares azedos,
cruzei a pé um deserto
e não tive um tico de medo.
Fui guerreiro
feito prisioneiro,
amei mulheres
por amor e por dinheiro.
No fim das contas,
sobrou um punhado de moedas.
Tanta coisa fui,
quase nada tive.
A única alegria
foi casar com Edite,
a que por toda a vida me esperou
na beira do rio.
No dia do meu morrer,
voltarão os três reis
e, dessa vez, eles conseguirão
me matar.
Mas meu sorriso na face,
quem há de me tirar?