SUPERNOVA
Silêncio!
Completa escuridão
Nada pode preencher esse vazio
O nome impronunciável da Criação
É a falta que eu sustento
Suspensa no éter por um fio
Não quero fórmulas, nem respostas
Desprezo as soluções milagrosas
Para o seu todo eu viro as costas
Só a imensidão calamitosa
Deste vazio imponderável e absoluto
Conforta e dá sentido de gozo
Quando me inclino no abismo escuro
Do meu olhar sereno e tenebroso
Cesse aqui todo ruído profano
Que um novo Universo se debate
No seio do divino caos humano
E tornará em treva a luz escarlate
De sóis multicores que ora sangram
E morrem pra dar luz a nova vida
Excitados átomos se assanham
Para gerar a luz jamais parida
Feroz e pulsante supernova
Separa a matéria por entre abismos
A vida e a morte se dão agora
Do orgasmo supremo se escuta o grito
Rasgue-se a luz e abrace a treva
Tornando-se una, letal e amorfa
Dessa profundeza um clamor se eleva
Minha sanidade é posta a prova
Eu caio, flutuo, me despedaço
Me faço um só com a Eterna Sombra
Não mais me enxergo no que eu faço
Por toda a minha vida busquei tal dobra
A dobra do vácuo sobre mim mesmo
Não quero outra vez repetir Narciso
Pois busco o sabor de estar a esmo
Não é de um espelho que eu preciso
A imagem que busco não possui nome
Nem forma pregressa a que se compare
É este vazio que jamais consome
Mas que já não fere, inda que esmague
É a forma do caos, do cosmo imenso
Por onde viajam mundos, cometas
De um negror tão belo, fundo e denso
Que não cabe na humana mente estreita
É fúria, é paixão, é amor e guerra
Rugindo em serena e celeste orgia
É céu que em gozo infrene berra
É inferno que em doce paixão silencia