FLOR DE FOGO
Eu abri o peito e expus o coração aos sete ventos enquanto pedia a
bênção dos sete mares
a fim de minhas caravelas cruzarem as índias
desvendando os mistérios da Terra Plana
encontrando o êxtase final de todos os Budas enquanto as mulheres
jogavam cartas de tarô e zap nas jogatinas de buracos negros
onde se buscava um momento de paz
porém tudo o que acontecia era a ruína dos homens
porquanto havia víboras enroladas nos cipós das árvores na floresta
vespas mandarinas escondidas nos vãos de cortinas de seda e veludo
os lábios se embotavam em vozes trêmulas
lágrimas escondiam chamas de feridas
quantas bonecas de barro se partiram no chão?
antes porém as minhas mãos recolhem estas peças
paguei o preço por enfrentar as divindades nas redes sociais
deixei para trás aquele gosto amargo do veneno da gula e vaidade
só o que não pude abandonar foi esta flor de fogo triste e que se consome
este palhaço sem picadeiro sobre um poço de lava
o coração que se amamentou com leite e placenta da fantasia
e encara as muralhas da loucura e da realidade