FLOR DE FOGO

Eu abri o peito e expus o coração aos sete ventos enquanto pedia a

bênção dos sete mares

a fim de minhas caravelas cruzarem as índias

desvendando os mistérios da Terra Plana

encontrando o êxtase final de todos os Budas enquanto as mulheres

jogavam cartas de tarô e zap nas jogatinas de buracos negros

onde se buscava um momento de paz

porém tudo o que acontecia era a ruína dos homens

porquanto havia víboras enroladas nos cipós das árvores na floresta

vespas mandarinas escondidas nos vãos de cortinas de seda e veludo

os lábios se embotavam em vozes trêmulas

lágrimas escondiam chamas de feridas

quantas bonecas de barro se partiram no chão?

antes porém as minhas mãos recolhem estas peças

paguei o preço por enfrentar as divindades nas redes sociais

deixei para trás aquele gosto amargo do veneno da gula e vaidade

só o que não pude abandonar foi esta flor de fogo triste e que se consome

este palhaço sem picadeiro sobre um poço de lava

o coração que se amamentou com leite e placenta da fantasia

e encara as muralhas da loucura e da realidade

Ronaldo Thomé
Enviado por Ronaldo Thomé em 17/07/2018
Código do texto: T6392631
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