POBRE NASCER
Noite gélida na soturna choupana
Onde humano é apenas o ténue calor
Do bafo que alastra na fedorenta cabana
E afoga em pranto a desumana dor.
O abrigo cercam apodrecidos taipais
Onde nem vela lacrimosa derrama luz,
Criança simples nasce como as demais
Na pureza singela da Natividade de Jesus.
Pelas frinchas do colmo de palha e lama
Em dança suave entra neve branca e fria,
Acumula nas rochas que servem de cama
E nos imundos recantos da casa vazia.
Abafados e emudecidos pelo vento norte
Gritos chorosos de voz débil e rouca
Soam nas penedias de silêncio de morte
E ecoam nos tojos do monte perdido
Como magia que enche de coisa pouca
A casa do menino na pobreza nascido!...