Vivemos de silêncios miseráveis.
Quando o perdão me foi solicitado.
Calei.
Poderia mentir.
Poderia disfarçar e ocultar a mágoa.
Poderia ter engolido o pranto.
Ou até fazer cara de espanto.
Mas, não. Simplesmente na inércia
congelei o momento na frieza glacial
do silêncio.

Vivemos de silêncios miseráveis.
Quando o amor acabou.
Feneceu e transmutou em cinzas
que a tempestade lavou.

Poderia ter chorado.
Poderia ter sofrido.
Poderia ter lamentado.
Mas, não.
Calei novamente.
Com silêncio de monastério
E nos corredores dos cânticos
Esqueci o significado da prece.

Esqueci de ajoelhar-me diante a divindade.
E, de me sentir pequeno e inútil.
Reles e esquecida.

Calei novamente 
e com olhos poéticos percorri as feições
dos santos, das santas, de suas roupas
e oferendas.
E, nas flores ofertadas vi tanto
encanto e bondade.

Vivemos de silêncios irrazoáveis.
Deveria ter gritado.
Deveria ter gemido
Deveria ter balbuciado.
Senão o perdão, pelo menos, um gesto humano.
Uma carícia fonética.
Fiquei estática.
Reta e trôpega
em pensamentos abstratos.

A decorar curvas
e a medir ângulos obtusos.
E, agora, no entardecer.
Escrevo a poesia nesse papel fino.
No guardanapo.
Guardo, em seguida, no bolso

Assim como arquivo todos sentimentos.
Numa caixa de Pandora.
Sem direito a ser violada.
É um bagagem perdida no mar de lirismo
e silêncio.
As ondas de silêncio embalam todos os
mistérios e obviedades.
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 04/07/2018
Reeditado em 24/07/2018
Código do texto: T6381832
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