A Entidade
Eu sou as sombras do tempo
Eu sou a iminência do grito
Eu sou a ânsia da fome
Eu sou a dúvida sobre o precipício
Sobre mim recaem chuvas de superstições
A própria razão padece ao meu decifrar
Vãos tentáculos quedam de me atracar
Colossais argolas declinam de me ancorar
Eu sou a audácia do fraco
Eu sou a covardia do forte
Eu sou a linha do horizonte
Eu sou o fim do caminho
Acaso te estruturas a me conhecer?
Acaso te iludes de isso lograr?
Antes, recolhe-te à tua cegueira!
Antes, apanha o fruto de tua ignorância!
Eu sou o inalcansável
Eu sou o inimaginável
Eu sou o insondável
Eu sou o indesejável
Vês então quão inútil é seguir-me?
Vês então que impossível é conter-me?
São a ti negados todos os mistérios
Tão pequeno és, indiferente à própria finitude
Eu sou a longa noite negando o amanhã
Eu sou a tormenta açoitando vastos oceanos
Eu sou a traição dos amantes
Eu sou o mercúrio no cálice dos tolos
Ausente à própria história sou
O contar humano insuficiente é para abarcar-me
O preço de abraçar o fim cavalgando a dúvida
Eis tua existência, a medida do mais alto fardo