A Entidade

Eu sou as sombras do tempo

Eu sou a iminência do grito

Eu sou a ânsia da fome

Eu sou a dúvida sobre o precipício

Sobre mim recaem chuvas de superstições

A própria razão padece ao meu decifrar

Vãos tentáculos quedam de me atracar

Colossais argolas declinam de me ancorar

Eu sou a audácia do fraco

Eu sou a covardia do forte

Eu sou a linha do horizonte

Eu sou o fim do caminho

Acaso te estruturas a me conhecer?

Acaso te iludes de isso lograr?

Antes, recolhe-te à tua cegueira!

Antes, apanha o fruto de tua ignorância!

Eu sou o inalcansável

Eu sou o inimaginável

Eu sou o insondável

Eu sou o indesejável

Vês então quão inútil é seguir-me?

Vês então que impossível é conter-me?

São a ti negados todos os mistérios

Tão pequeno és, indiferente à própria finitude

Eu sou a longa noite negando o amanhã

Eu sou a tormenta açoitando vastos oceanos

Eu sou a traição dos amantes

Eu sou o mercúrio no cálice dos tolos

Ausente à própria história sou

O contar humano insuficiente é para abarcar-me

O preço de abraçar o fim cavalgando a dúvida

Eis tua existência, a medida do mais alto fardo

Isaque
Enviado por Isaque em 24/06/2018
Reeditado em 27/10/2022
Código do texto: T6373049
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