VISÃO ONÍRICA
Olho pelo buraco da fechadura,
vejo a noite escura
que herdamos dos ancestrais,
os quartos na penumbra,
os vestígios de tumbas
de faraós bem vestidos,
velhos e carcomidos,
os pergaminhos
mergulhados em rios de leite ninho,
safiras e jades numa bandeja de prata,
vacas gordas pastando, solenes, nas matas...
Muito além dessa visão de paralisia
vejo a música tocada na igreja da sevícia,
nobres e anchos cerimonialistas
dançando nas pistas
de dj's siderais,
os tolos ao lado dos mancomunadores,
os que sofrem ao lado dos que se aproveitam dos amores...
Além deste jardim suspenso numa Babilônia de pedra,
homens encharcados de sal e mulheres sem gosto
passeiam pelas catedrais erguidas pelas últimas feras;
no fundo, furtivo, Deus escapa, incólume, por entre os lobos...