Dos cristais assexuados e de algum hipopótamo andrógino
Circulava naquela cidade de desaconteceres,
Algumas velhas estórias horizontalizadas.
Lembradas apenas por desordeiros e jardineiros,
Serviam de tema para o sermão de domingo.
Igreja sempre vazia de qualquer questionamento,
Aceitava apenas as indumentárias daquele hipopótamo.
Púlpito reforçado para suportar o peso da consciência,
Era o lugar de vociferar novos e incontestáveis preconceitos.
Ouviam-se profanas cantigas sem nenhum acompanhamento,
Pelo coral dos proibidos cristais daquela paróquia.
O lado maior determinava ser macho ou fêmea.
Se da direita maior, macho, se da esquerda, fêmea.
Vozes apenas efeminadas ou masculinizadas em uníssono,
Adestradas para o conforto dos ouvidos mais sensíveis.
Cantavam sempre o Réquiem Para Cristais e Hipopótamos,
Última obra de canto composta pelo sacristão que roubava hóstias.
Só se falava das malditas beatas assombrinhadas,
Maliciosas e sórdidas pecadoras jamais indulgenciadas.
Caminhavam cabisbaixas em sorrisos cínicos,
Cobertas da negritude dos pássaros hitchcockinianos.
Dizem as más línguas que um dia já foram donzelas,
Amaldiçoadas pelo segredo dos enciumados cristais assexuados.
Em outras esferas soltas e revoltas dizem ser lenda, invenção,
Coisa daquele pachorrento hipopótamo andrógeno.
Há quem ainda acredita naqueles sermões vociferados,
As crianças, os desordeiros e alguns jardineiros sobreviventes.