Desmaio

Primeiro foi uma explosão,

Abafada, muito lá dentro de mim,

Uma explosão contida, curta;

Um inverso da criação.

Posteriormente a sensação de luz:

De início um violeta suave, doce,

Em seguida, vermelhos e laranjas,

Quentes, ácidos, despertantes,

Em uma revolução crescente,

Com movimentos centrípetos.

Num dado instante tudo cessou,

Um vazio completo se fez

E uma névoa de alvor cintilante,

Etérea, vigorosa, sobranceira,

Dominou o vazio, completando-o,

Fartando-o de substância vital.

Então, sobrevieram os sons.

Pareceram-me oboés, vários oboés,

No entanto poderiam ser requintas

Ou, quem sabe, flautas transversas.

Somente depois, bem depois,

Vieram as sensações físicas:

Vozes, odores, um frio viscoso

E uma intensa dor por todo corpo.

Uma mão tocava, leve, meu pulso;

Um nauseante burburinho sufocava.

Quando abri os olhos, vi a terra,

Suja, áspera, seca; elemento tão vital.

Percebi ainda minúscula formiga,

Que docemente acarinhava minha mão.

(Versos Livres. in Revelações)

Luiz A Vila Flor
Enviado por Luiz A Vila Flor em 07/05/2018
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