Eu a Porta da Tabacaria

Eu por vezes desejaria não sentir sofrer a angustia do peso do mundo nas costas.

Quero não ter nada, além do encontro da tabacaria, o desejo de da preocupação de escolher o fumo e nada além.

Não quero sentir a ausência de sentido atravessando meu corpo com sua navalha fina

Quero ceder a tentação, quero ser comum e esquecível

Quero meu potencial jogado no lixo.

Assim serei só esquecido comum como Esteves,

E serei esquecido como ele, indiferente quantos versos escrevo.

Eu serei neste momento igual a quem invejo

Exceto por uma vida vagando de sofrimento a sofrimento, sou um cachorro nas latas procurando na alma alheia e entre as pernas das meninas qualquer coisa de sagrado, ou qualquer coisa de mim

Mas não hoje, hoje quero ser igual ao Esteves sem qualquer metafisica

Odeio ser eu mesmo quase sempre, quando não quero odiar sinto pena, vou ser sempre aquele e aquilo que nunca se concretizou serei sempre o que desejou e não alcançou

Serei sempre o custo, serei o anão a minha própria corcunda

Serei o meu maior amigo, o verdadeiro Scariotes com o peso dos meus sonhos mortos em minhas mãos,

Serei sempre o gosto das opiniões dos outros, o reflexo destas decisões, trará vergonha deles a tona e por isso serei evitado

Por isso sou o erro dos outros, a expectativa cruel dos que acreditaram em mim

Sou sua amostra irresponsável e irrelevante

Sou o fígado de Prometeus, sou a pedra de Sísifo

Sou o peso das mãos dos deuses

Sou o nojento desejo de Glória.

E a prova que homens nasceram para o fracasso.