SÓ O QUE NOS UNE

Enchi meus cântaros com terra que disseram sagrada

bebi dos cálices do doce vinho da floresta

falei a língua profana dos homens das cavernas

simultaneamente

em que ouvia palestras de químicos e historiadores

deram-me púrpura de tiro como veste

fizeram bailes de carnaval com glitter e absintos

por trás das máscaras no entanto

cinza e azul prússia de tristeza

após tantos instantes de tempestade em copo d'água

CRÁS!

vidro despedaçado de suas taças pelo chão

quiseram-me fazer de monarca

descobri que era apenas pobre tolo escravo

busquei fugir

apelei para a magia dos astros

vesti-me com as mandalas eternas dos monges

seguido pela polícia e por cavaleiros templários

Lênin falou de mim para o mundo civilizado

camaradas uni-vos

então fugi com as asas dos pombos da paz

atrás de nós as águias de branca face

rosnados ferozes dos alucinados tigres asiáticos

em tudo e com todos

fui partícula esquiva na crista da onda

mínimo múltiplo comum

desafiando ampulhetas e teorias da física

andei nos tetos para fugir da subida das águas

onde me achas?

não me procures pois há princípios de incerteza

- desafio ao espaço e ao tempo -

e cruzando os mares da modernidade líquida

através de rios de imundície e prédios suspensos

achego-me qual mariposa à tua luz

dar-te-ei do meu conhecimento

pois cada homem nessa existência é rochedo inerte

só o que nos une -

os rios que se formam quando caem as lágrimas