Noturno de Abril

Dormirei com a fronte curva

sobre o ninho das palavras.

De onde me virá o socorro

nas horas apagadas dos relógios,

quando as páginas se soltam

sobre os quintais e

vão se preencher de vaga-lumes

para iluminar algum caminho.

Vez ou outra, na maciez do ninho,

como sino, dobrando sobre a face,

uma lágrima...

percorrendo a trajetória imposta pela lembrança.

Tantos os sonhos da alma,

equilibrando-se sobre a árvore adormecida

no bosque silencioso onde, no peito,

ainda se canta pra algumas raízes

que sabem discernir a luz das trevas,

em nossa harmonia, irmanadas,

sob o tênue tecido cósmico

de que é feita a vida.