DA MORTE DE UMA ESTRELA

I

Uma estrela agora extingue-se

Em uma galáxia distante

Onde orbitava junto

A outros astros

Celestiais.

Extingue-se prateada

Como uma bola de alumínio

A arder incandescente

              Nas orlas do infinito.

Deixando rastros de sua existência

Que se dissipam no fundo negro

Mais valozes que a luz.

II

Morre como se morre:

                                          Se apaga!

Mas não a morte:

A morte é permanente!

                                 Mas não eterna

A morte

Morre na lembrança

               E a lembrança de pequena

Morre antes do futuro

Que nas sombras

                                Se lança.

III

Uma estrela a anos luz

No espaço-tempo

Morre só

Reduzindo-se à poeira cósmica

Que seu brilho ainda emite

Na noite estrelada de Van Gogh

Alvorecendo em lenta espiral

À janela do hospício de

Saint-Rémy-de-Provence em 1889

Tal como nos céus de Curitiba

Sob a neblina de Setembro

Turvando praças e alamedas

No véu das geadas em 1998

(Confundido-se com a luz dos postes)

À janela do hospital do Trabalhador

Às seis horas da manhã

                                    Eu vindo à luz.

IV

E a estrela ainda cintilava

(Ou era a sua morte a nos acenar rente

A discrepante relatividade temporal¿?)

Monumental monólito em multidões

Orbitava refletindo noutras galáxias

Nebulosas como fluidos corporais

Nas silhuetas dos astros que

No lume de sua vida iluminam ainda

As retinas ávidas

Que exploram o universo afora

E encontram-se dentro da

Reluzente estrela finda.

V

Sol de velhas noites

No tempo ainda resiste

A estrela sempre noturna

Que o tempo paciente assiste

Morrer como tudo

(Até o próprio tempo).

E por mais que seu lampejo

Por milênios onde reside

Percorra escaldante por todo espaço

Inaugurando os dias

A estrela extingui-se na escuridão

Da mesma noite turva

Em que nasceu

Da eternidade sidérea

Para um destino limitado.

VI

Morre sem aplausos

Mas ainda em seu palco.

Morre à maneira dos cometas

De vida retilinea.

Parte em desencanto

Provando sua existência

Na morte tragicamente vívida.

VII

A morte de uma estrela só se sabe

Após milhões de anos:

                           É lenta

Até o momento

Em que se propalam

Suas onda sonoras

Como um último balbucio.

E a estrela já sem vida

Renasce infinitamente

Quando redescoberta

Por novos olhares.

HenriqueBazzí
Enviado por HenriqueBazzí em 28/03/2018
Reeditado em 06/04/2018
Código do texto: T6292739
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