A FÁBRICA

A FÁBRICA

A sirene soa o toque de recolher:

Os ships acusam o vai e vem

Na vida por um vintém.

Todos se recolhem ao curral.

Ruas patrulhadas por vorazes

Avatares de lata movidos a óleo.

Chaminés vomitam escura fumaça.

O cheiro da cocheira é forte.

Porteiras se fecham como prisão.

À noite fachos luminosos

Espreitam andarilhos fugitivos...

Rajadas se ouvem contendo-os!

Corpos ao chão, inertes, mortos...

O dia amanhece as sirenes soam...

A grande fila se forma.

Chamada numérica de chips

Denuncia os faltosos... Mortos...

A fábrica é a vida e o dia a dia...

É rotina por entre máquinas...

Vozes emudecidas... Todos quietos

E temerosos aguardam a comida

Servida em latas... Ração de sobrevida...

A produção não pode parar!

Os operários e seus ships embutidos

Sob o pulso são correntes que os prendem!

Sua liberdade está contida!

De rotina abstrata e cinza

Os trabalhadores dentro da jaula

Obedecem e cumprem ordens

De produzirem e não falarem...

A mordaça é desumana... Tirana!

Sirenes tocam, as filas formam-se... Chamadas

Numéricas dos ships... Ninguém escapa!

O trabalho é duro e forçado...

Salário minguado e suado!

Seres anônimos, sem nomes nem família...

Submissos à camarilha

E sob a guarda de Andróides!

A noite chega e de novo são conduzidos

Na longa filha, uma um, aos seus alojamentos...

A máquina da vida tranca as engrenagens:

Todos confinados devem dormir...

O dia amanhece cinza e enfumaçado.

A sirene dispara aguda!

Os androides enlatados e cheirando óleo

Montam guarda ameaçadora e o gado

Ruma na direção da fábrica...

Recomeça a produção... Na prisão!

O alto falante emite uma nota:

“ATENÇÃO: HOJE NÃO HAVERÁ SAÍDA.

A PRODUÇÃO DEVE SER DUPLICADA”!

E o gado humano, quieto aumenta seu esforço!

Alguém no anonimato cai sob pesado desmaio...

Todos voltam olhares de soslaio...

O ship número 346, é levado para o alto forno de incineração!

Já não presta mais... Seu ship é retirado e aguarda substituto...

Suas cinzas são jogadas fora!...

E a fábrica aumenta sua produção...

Todos vão à exaustão!

A sirene toca anunciando o alivio da parada!

E todos em longa filha são conduzidos...

No alojamento devem dormir e descansar “um pouco”

Sob a guarda dos androides de plantão!

Os holofotes giratórios clareiam o sono...

Ninguém ousa fugir... Nem mentir... Nem agredir!

Ali não há sentimentos, nem lembranças, nem alegrias...

De mentes controladas, ânimos desfigurados...

Conduzem-se como robôs teleguiados... Enlatados

Aprisionados... Subjugados...

Vazam óleo em vez de sangue

Seres inanimados... Sem alma nem coração!

Jose Alfredo

Jose Alfredo
Enviado por Jose Alfredo em 19/02/2018
Código do texto: T6258515
Classificação de conteúdo: seguro