Vide Cor Meum
Não me amava, nem pensava, nem queria
Mas via e apetecia minhas chagas, as feridas mais pútridas minhas
E, igual a ninguém, lambia-lhes
E eu, quase alegria, amava
E de uma quase alegria assim, um doce sono se apoderou de mim
Fiz-lhe dono de minhas dores enquanto eu dormia
Ele, analisava os restos do meu coração, um a um
Ego dominus tuus, dizia
Mais que todos, ele vide cor meum
E eu, no meu estupor o via, enquanto ele comia os restos,
Alegremente de mim ele se nutria
E quando eu despertasse envolta em lágrimas, veria
Tudo meu que ele partiu e, com tudo meu, partiria
Eu sempre soube, ele também sabia.
Agora, fica com o gosto das feridas, as sobras
Aguardavam-te desde O Início
Siga feliz, para sempre sendo dono disto,
Enquanto eu, livre de tanto, agora grito:
Não me amava, nem pensava, nem queria
E limpou do meu peito os detritos enquanto eu dormia.