Vide Cor Meum

Não me amava, nem pensava, nem queria

Mas via e apetecia minhas chagas, as feridas mais pútridas minhas

E, igual a ninguém, lambia-lhes

E eu, quase alegria, amava

E de uma quase alegria assim, um doce sono se apoderou de mim

Fiz-lhe dono de minhas dores enquanto eu dormia

Ele, analisava os restos do meu coração, um a um

Ego dominus tuus, dizia

Mais que todos, ele vide cor meum

E eu, no meu estupor o via, enquanto ele comia os restos,

Alegremente de mim ele se nutria

E quando eu despertasse envolta em lágrimas, veria

Tudo meu que ele partiu e, com tudo meu, partiria

Eu sempre soube, ele também sabia.

Agora, fica com o gosto das feridas, as sobras

Aguardavam-te desde O Início

Siga feliz, para sempre sendo dono disto,

Enquanto eu, livre de tanto, agora grito:

Não me amava, nem pensava, nem queria

E limpou do meu peito os detritos enquanto eu dormia.

A RITA
Enviado por A RITA em 25/01/2018
Reeditado em 01/10/2018
Código do texto: T6236103
Classificação de conteúdo: seguro