Tudo que tenho
são minhas lágrimas
Mas estas secaram

Tudo que tenho
são minhas dores
Mas estas cessaram

Lateja-me a consciência
com gritos e sussurros
Penetrando-me n'alma

Agregando-se ao espírito.
Ao etéreo
Ao abstrato que feito molusco
se agarra ao corpo de pedra.

E, ondas batem.
Lavam.
Lixiviam
Mas o molusco, cresce,
domina a pedra em silêncio.


Tudo que tenho
é essa sensação de pertencimento.
Pertencer a uma família.
Pertencer a uma cultura.
Pertencer a essa terra
que um dia irá sepultar-me

Encobrir-me finalmente.
Voltar a natureza.
Ao pó.
Conhecer o vento.
O devaneio das folhas.
Os outonos e invernos.

E no verão.
Diante do calor do sol.
Arder-se.
Diante da distância das estrelas
Distribuir meus sentimentos
aos céus...

Decifrar as sombras.
Traduzir a luz dos olhos alheios.
E marcar o caminho
na busca do aprendizado.

Então, deixaremos as lágrimas.
O corpo abandonará os suores.
A mão abandonará a escrita.
E, tudo que foi dito ou escrito.
Serão apenas vestígios de algum
pertencimento.
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 15/01/2018
Código do texto: T6227047
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