SISTEMA ASSOLADO
Peguei da imaginação um foguete
Lançado da rampa do meu jardim.
Se fui à Lua? Fui até o sol - nem girassol
E impossível, sem noite, embeber-se com jasmim.
Em Mercúrio preparei-me para madressilvas
Quem sabe margaridas?! Violetas?!
Rondei a Hermes, só espera
Era grande ainda minha lista de planetas.
Apostei tudo, por seu nome, por seu brilho
Aqui sim, deve haver malva.
Vencido, não vi sequer uma anêmona
Nenhuma pétala nas pontas da estrela-d'alva.
Fui além do desespero, pus fogo à esperança.
- Trarei narcisos, rosas, crisântemo...
De Hades, desgarradas intenções...
Vaidosos pensamentos, lamentos...
Calculo que exista em Netuno
Borboleta abelha, jacinto, lírio.
Ou só lhe serve do horóscopo o destino?
De sabres e adagas não é maior este martirio.
Corri ao alpendre, de urano a morada.
Colunas das sacadas enfeitadas de hera.
-Qual nada! nem tulipa, nem gerânio.
Sacerdotisas de Vesta, dai-me uma candela!
Em anéis celebrado estava Kronos.
Papoulas e nenúfares respirariam sua atmosfera.
Branda emoção. Adidos esforço e desterro.
Vencerei? Acharei flor? Em qual delas?
Nesta esfera! Campinas em cravos
Salpicadas de labaredas de flóx!
Cai orvalho, lágrimas de Zeus.
Sem estrelas entre capins o que será de nós?
De goivos fidedignos, amores perfeitos...
Ares cortará com sua espada um buquê.
Céu vermelho; gases à essência de alfazema...
- O que levarei para lhe oferecer?
- Terra à vista! De minha última janela.
Flores impressas, essência pressurizada,
Pétalas de neon, o mel plastificado,
Borboletas empalhadas, a alegria embalsamada.
Auto-exílio sugeri-me na Lua.
Ainda vasculhei a floresta que não mais existia
- Aguardar a primavera! Surgiu alguma
De rubras camélias, verso de poesia.
- Calendário! Estuário dos desejos...
Quanto tempo ainda resta?
Desabrochar o amor, roubar do sol a cor.
Provar o perfume da estação em festa!
Enfeitar-lhe o cabelo, oferenda jovial.
A flor que procuro não habita um jardim.
"Primitivos anseios aos celestes desígnios."
Ela inexiste nos cometas, eles insistem em mim.