Escafandristas estão cercados
de oxigênio e imaginação.

Há DNAs soltos entre a pedra e
o bisão retratado na parede
da caverna, sob o rubor dos sangues.

O fogo parido pelo esfregaço das pedras.
A areia fina a fazer vidros.
A tempestade a molhar a terra,
irrigando sementes.
E antecipar sombras possíveis.


Escafandristas jogam xadrez.
Derrubam o rei do adversário.
Sobrevivem onde deveriam
afogar-se.
Será possível chorar dentro de escafandro?

Será possível verter a lágrima,
diante de uma chuva torrencial?

Todas as gotas foram vertidas.
Todas as mágoas foram escoadas.
E varridas para além do risível.


Neste jogo de verdades combinadas
E de improviso paradoxal.
Qual peça nos resta no tabuleiro?

Saberemos qual é a próxima jogada?
E como sustentar o blefe.
Tenho o royal straight flush.
Mas sou plebéia.

No fundo nenhum jogador é sério.
É um equilibrista suicida
que se apaixona pela ideia da queda.
O abismo lhe atrai.
O incerto infortúnio lhe seduz.
As faces do dado 
jorram inequações 
indecifráveis.

Não adianta blefar com a vida.
Paga-se com o tempo.
E o tempo não volta.

Amores passados.
Amores requentados.
No bule neurótico das saudades.
Na ebulição da mocidade ou
na melancolia da velhice.

Nos resquícios da memória
Palavras perdidas.
O som dos passos bêbados.

O ballet esquisito das crianças.
E a gralha lá fora, a gritar
uma primavera fenecida.

Resta alguns verões.
Muitos invernos longos.
A relembrar fragilidades.
A fragilidade artificial 
do escafrandro.

O caminho das águas entre
águas a verter a sólida
existência.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/12/2017
Reeditado em 16/08/2019
Código do texto: T6191018
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